Meu voto é declarado pra MARINA e estou com vontade de compartilhar meus motivos. Deixo claro que eu não tenho uma base de consciência política ultra-consistente, porém, fico disposto a conversar. (Só não tenho muita paciência com “ataques”; isso eu tenho que dizer.) Talvez seja importante dizer também que não sou evangélico. E que não generalizo pessoas conforme suas crenças. Prefiro observar os FRUTOS pra conhecer a árvore (lembrando que alguns males devem ser cortados na raiz).
Pode soar piegas, ingênuo ou o que mais se diga, mas acordei hoje com saudades do LULA, e foi literalmente o jingle dele que me “despertou” (nos vários sentidos) - podem acreditar, eu sei “de cor” até hoje.
Lula foi rechaçado por conta da origem humilde, da suposta ignorância, das impropriedades da fala, do seu “ora-sim-ora-não” ateísmo... Insuflou “medos” declarados publicamente, não teve adesão massiva nas suas primeiras campanhas. Os oponentes apontavam questões de fato frágeis nele, exageraram muitas e inventaram outras.
Ter perdido as primeiras eleições certamente fez com que ele revisse atitudes, amadurecesse pessoalmente e consolidasse historicamente o PT.
LULA NÃO NASCEU PRONTO. Mas já trazia muito na bagagem e soube aprender e conquistar. E muitos dos seus princípios ainda o nortearam nas ações concretas que fizeram o Brasil se repaginar em vários âmbitos, mesmo quando muitos apostavam na sua “ingovernabilidade”, na sua suposta incompetência pra tratar de assuntos internacionais, no seu “fundamentalismo petista” que imobilizaria o país... Ele foi crescendo aos poucos... até crescer demais, às vezes... Decepcionou a muitos, fez alianças suspeitas, se calou ou compactuou com nepotismos, frustrou especialmente no que diz respeito ao combate à corrupção, onde eu imaginava que ele seria severo, ainda que a gente saiba que este combate nunca é fácil...
Só que, na essência, o LULA-lá não foi traído. E nem a gente que acreditou nele pode se sentir traído. Longe de endeusamentos, é só fazer uma viagenzinha há uns 16, 8, 4 anos pra ver que muita coisa mudou e, na sua maioria, pra melhor sim, e eu creio que por conta de uma história de vida, superação, avanço e pelo HUMANO que habita nele.
É isso que eu sinto agora na MARINA.
E gosto da postura de diálogo que vejo nela em entrevistas e declarações, na prontidão pra esclarecer seu pensamento. Percebo um bom preparo, sem querer dizer com isso que ela tenha um discurso e/ou programa da ordem do irretocável e inquestionável. E sinto nela uma capacidade de “aprendizagem” e de “escuta” que, no meu entender, são ferramentas poderosas e sofisticadas pra edificação do HUMANO.
Gosto de observar quem se aproxima dela (porque Marina agrega gente bacana pra perto de si) e de como ela interage com esses interlocutores pra construir um pensamento e uma proposta. Nem ela nem ninguém - nem o Lula - governa ou governou sozinho (isso no bom e no mal sentido). O resto é ditadura ou coisa que não o valha. Admiro a sinceridade dela, expressando publicamente o seu pensamento pessoal e de - me parece - exercitar pra que isso não se confunda perniciosamente com seus posicionamentos políticos.
Pode ser que Marina não se eleja agora, o que talvez seja até bom, pra ela ter chance de se posicionar melhor, rever questões, se fortalecer... e aquilo mais que citei do Lula-ali. Há que se refletir sobre a inserção dela no PV, que tem um histórico frágil... Mas a MARINA-ali faz a diferença. Se VERDE ela está assim, imagina quando AMADURECER ainda MAIS! (rsrs, só pra descontrair.) E caia o que tiver PODRE, que pelo menos serve pra nutrir o solo, sem desperdícios. Torço pra que os princípios humanistas dela sejam maiores do que o radicalismo religioso que muitos apontam contra ela e que, se revelasse mesmo como fanatismo ou subserviência ideológica, ficaria incompatível com uma liderança política e com a representatividade de uma nação. Mas, até agora, vi nela uma atitude de abertura e disposição ao debate. Nos outros cargos públicos que exerceu, até onde eu saiba, não consta nenhum fator que a desabone ou que a condene de forma irrecuperável.
Se a Dilma "ganhar", como “tudo indica”, ela vai sofrer o que eu imagino ser uma “oposição” muito saudável: a do LULA mesmo! Falo assim, porque imagino (e torço por isso) que - se ela "ganhar" - o Lula vai tentar defender e preservar o básico do que ele ajudou a construir no país e porque ele se colocou “na reta” (opa!), fazendo uma campanha deslavada pra ela-ele na dita “continuidade”. A expectativa/pressão do país e do Mundo num Brasil pós-Lula-lá-e-ali na presidência é um fator que pode ser estrategicamente muito bom pra quem quer que venha “exercer” a função, mais que “ocupar” um cargo...
Meu voto na Marina, confesso, é uma atitude minha contra o receio que tive do Lula na primeira tentativa de eleição presidencial dele. É uma estratégia também, no sentido de fortalecer a possibilidade de que a Marina venha a público - não só na “mídia” - “dar cara a tapa e mostrar a que veio”. Um segundo turno ajudaria bastante nisso. E se não for nesse segundo turno, tanto mais ela vai ter de dar provas de consistência e perseverança, o que também é muito bom pra ela e pra gente que acredita nela.
Lamento quem se diz “intimamente simpatizante dela, mas votará nesta ou naquele que parecem melhor colocados” nas questionáveis pesquisas... Isso eu lamento mesmo, mas respeito. Quem sou eu pra julgar opções dessa espécie?
Então, quero ouvir o jingle SIM! SEM MEDO DE SER FELIZ.
Se cuida, Marina. MEU VOTO É PRA VOCÊ!
Zé Walter Albinati SILVA
ator, diretor, professor de teatro e psicólogo
Belo Horizonte, 30/09/2010
