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12 de janeiro de 2007

dor & beleza

C. S. Lewis comentando Agostinho em Os Quatro Amores.

Agostinho, em suas Confissões, relata com extrema dor e tristeza a morte de seu muito amigo Nebrídio. Conclui que a culpa de sofrer por tamanha tristeza resulta de seu erro em confiar seu coração a outra coisa senão Deus. Não seria sensato investir por felicidade através de algo que se pode perder, e os seres humanos ora partem para longe, ora se tornam indiferentes a nós, e ora morrem (ou melhor, sempre morrem!). Em suma, nós os perdemos. Você jamais colocará água em uma jarra rachada, não reformará uma casa da qual será expulso. Desta forma, para a lógica de Agostinho, melhor se virar exclusivamente para Aquele que nunca nos deixará.
O problema desse raciocínio é que não podemos cumpri-lo. O amor, em si, bem como o conseqüente anseio por beleza (estética, ética ou religiosa) é estado ou fato intrínseco à condição humana. Neste sentido, nossa existência se define em uma indigência, uma constante e desesperada necessidade de ser amado e mesmo de amar. E é a partir daí que concluímos acerca da forte inclinação que temos por amar, apesar de tanto medo, tanta dor. Se o amor se importasse tanto com segurança, seria nada mais que nosso próprio raciocínio, a fazer contas sobre o quanto irá nos custar ou sobre o quanto iremos ganhar ao nos aproximar de alguém. Enfim, o preço do amor é a dor.

Lewis registrou:
Não existe alívio na sugestão de Agostinho. Nem em qualquer outra linha de pensamento. Não existe um investimento seguro. Amar é ser vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração irá certamente ser espremido e possivelmente partido. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve dá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. Envolva-o cuidadosamente em passatempos e pequenos confortos, evite todos os envolvimentos, feche-o com segurança no esquife ou no caixão do seu egoísmo. Mas nesse esquife seguro, sombrio, imóvel, sufocante, ele irá mudar.Não será quebrado, mas vai tornar-se inquebrável, impenetrável, irredimível.

2 comentários:

  1. Anônimo12:14 AM

    pois é, se o amor nos causa dor, a dor transforma nosso jeito de amar, e andar...
    que confusao, minha cabeça ja doi só de pensar nessas coisas...
    amor mesmo só aquele que deus nos mostra como ter dia após dia.. por mim eu seria grosso mesmo.. é bem mais facil

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  2. Anônimo10:38 AM

    Agostinho e C.S.Lewis... Será que me atrevo a comentar?

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