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22 de janeiro de 2007

o efeito Mário Prata

E aqui a crônica de um novo amigo crônista, ou melhor,um velho amigo novo crônista.
O EFEITO MARIO PRATA, OS ROLOS DE PAPEL HIGIÊNICO E A BÍBLIA CORRIQUEIRA

Em primeiro lugar, estabeleçamos alguns pontos importantes: é a primeira vez que finjo que sou escritor de crônicas.
Por segundo, é necessário que você que lê, veja este texto como uma crônica despreocupada, pois se assim não for, então já não passamos nem do primeiro ponto.
Por último, e não menos importante, é vital que você saiba um mínimo sobre Mario Prata. Caso não saiba, vamos de pronto corrigir este ponto.
Mario Prata é mineiro, escritor de teatro, cinema, crônicas (sim, as dele são crônicas mesmo) e até de novela. Tem no seu currículo a última (ou seria penúltima?) novela das sete, Bang Bang. Fora alguns deslizes naturais dos quais nenhum de nós está livre, ele sempre é um autor acima da média em tudo que escreve. Já colocou seu nome vários punhados de vezes entre os títulos mais vendidos do Brasil.
Um dos seus textos que li e até hoje ainda me causa certo impacto é intitulado “O Rolo do Casamento”. Publicado lá por meados da década de 90 na revista IstoÉ, o texto contava a estória de Kadu e Bel, um casal jovem, comprometido com seus votos mas que estava recém-separado. O motivo da separação? O papel higiênico. Havia uma discórdia permanente entre o casal acerca da maneira pela qual devia ser arrumado o papel higiênico. Kadu insistia em colocar o papel saindo por baixo do rolo. Bel, metódica, arrumava sempre a configuração higiênica à sua maneira, com o papel saindo por cima. A seriedade do assunto estava alcançando limites além da razão, quando Kadu descobriu uma pesquisa que revelava que 71% dos americanos homens arrumava o rolo com o papel saindo por baixo(!). A maior potência mundial dava respaldos para Kadu defender sua tese perante sua esposa. Mas a esposa, já em pleno litígio matrimonial, teve a seu favor a opinião do advogado de que, colocando-se o papel por cima, ele sempre estará à disposição para ser usado novamente, ao contrário do papel que sai por baixo, que ficaria “escondido”. O fato é que o casal se separou e não houve o que conseguisse promover a restauração da paz entre os dois.
Aí entra o “Efeito Mario Prata” como eu decidi nomear este texto. Não posso negar, como já antes disse, que este texto até hoje me causa impacto, pois não há vez em que eu me atire à tarefa de trocar o rolo do papel higiênico sem que me venha involuntariamente à cabeça a dita estória de Kadu e Bel. Já tentei todas as técnicas possíveis mas acabei me convencendo de que isso é algo que está tão profundamente arraigado dentro de mim, que não há mais cura. Talvez esse seja o resultado máximo que aquele que escreve espera alcançar. Um texto prenda o leitor nos seus pensamentos uma década depois de lido. Talvez comigo Mario Prata tenha alcançado esse nirvana escriturístico. E o prolixo escritor nem faz a mínima idéia. Ou faz.
Eram já passados vários minutos depois das 22 horas de ontem quando me sentei ao trono para desempenhar a tal função de troca e configuração do papel higiênico. E ali, absorto em meios aos pensamentos a respeito de Kadu e Bel, consegui me livrar da sina da crônica Prateana e pensar além daquele ato.
Pensei em como somos condicionados a ler vez após vez os mesmos versículos e capítulos de histórias bíblicas até que após certo momento, eles já não fazem mais efeito dado que a sua leitura se tornou corriqueira. Qual a profundidade que João 3.16 ainda produz em nós quando lido? Reconheçamos a verdade, após termos nos esmerado para decorar João 3.16 não se faz mais necessário sua leitura afinal de contas, sabemos de cor, não é? Mas, se conseguirmos nos lembrar, qual foi o impacto que esse verso causou em nós lá atrás em nossos primeiros e inesquecíveis dias de neófitos? Ou então, nossos votos de casamento. Quando recordamos nosso matrimônio através das fotos ou vídeo, lembramos de recordar o sentimento que se passava por nosso coração naquela exata hora ou prestamos atenção nos padrinhos e convidados e suas reações frente às nossas palavras? É muito fácil deixar de nos maravilhar com as coisas de sempre, à medida que elas se tornam cada vez mais as “de sempre”.
A Bíblia, porém, é algo que não devia ser corriqueiro. Afinal, segundo um professor de teologia, a definição de Logos, necessitaria cerca de 200 páginas para ser englobada dentro de certa dimensão aceitável e inteligível. Então como nós podemos nos dar tão pouco trabalho ao tentar definir as verdades da Palavra quando somos pegos em dúvida ou quando somos procurados para aconselhamento e/ou orientação?
Não deveríamos fazer com que cada uma das verdades contidas na Bíblia produzisse em nossa vida o “efeito Mario Prata”? E, mais importante ainda, fazer com que as pessoas com quem temos contato também se apropriassem dessas verdades e as semeassem no dia a dia, nos hábitos, nas pequenas coisas?
Porque o Evangelho puro na sua essência foi escrito para servir como um manual da vida diária. Em várias ocasiões o próprio Mestre nos constrange a perdoarmos, a pacificarmos, a chorarmos, termos fome e sede. Mesmo em se tratando de metáforas relativas à vida espiritual, nenhuma dessas regras necessita alto grau de teologia para ser colocada em prática. Pois quando as regras se fizeram tinha-se em mente algo que fosse alcançável tanto ao mais culto quanto ao mais simples. Para as serpentes, mas também para as pombas.
Diante disso, qual seria a nossa atitude mais sensata? Fazer das verdades da Palavra textos que vão nos marcar a cada dia das nossas vidas. Seja numa discussão de alto teor teológico, seja no café da manhã em companhia da família, numa conexão de ônibus ou sobre o púlpito anunciando os benefícios da cruz. Somos capazes de tornar cada verdade da Palavra algo que vá além da Bíblia corriqueira a que estamos acostumados? Fazer de cada versículo uma regra ou história que vai nos “perseguir” em cada situação enfrentada?
Da próxima vez que nos sentarmos para cear lembremos que o Mestre disse que aquele que ouvir sua voz há de cear com ele. Quando nos sentirmos insultados, fiquemos felizes pois vamos lembrar que bem-aventurados seremos quando formos insultados por causa da verdade. Quando ofendidos, lembrar de perdoar independentemente de quantas setenta vezes já se passaram.
Certamente condicionar as nossas pequenas atitudes diárias não á tarefa fácil. Rotina, guardadas as suas parcas qualidades, pode ser algo extremamente perigoso para quem pensa em andar todos os dias “em novidade de vida”. Mas se pensarmos que a Palavra diz que as misericórdias do Senhor se renovam a cada manhã, então já passamos a não depender apenas de nossas próprias forças. É um verdadeiro alento saber que mesmo falhos, podemos ter a nosso favor uma fonte de força não-poluente, renovável inextinguível, além de perfeitamente acessível. Resumindo, aquilo que o homem busca há séculos.
O “efeito Mario Prata” não existe cientificamente. É uma criação minha, portanto, sinta-se à vontade para chamá-lo como quiser, alterá-lo em sua essência, parâmetros e modelos. Mas que a lição que ele ensinou a mim, também sirva a você. Mesmo que seja na hora de discutir teologia ou de trocar o seu papel higiênico.
Em tempo: sempre arrumo o papel higiênico saindo por cima. E nunca tive briga alguma com minha esposa concernente a este assunto.
Por Beto Santos

Um comentário:

  1. Anônimo12:23 AM

    poi eh, axo q esse texto sobre o efeito mario prata teve um efeito mario prata sobre mim hj,
    rsss

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